sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

IGUAL A ELE EU NUNCA VI - FINAL

Chico ainda era novo
Foi morar com outros patrões
Com os Gomes e Abel
Cada um com seus senões
Tempo bom ficou guardado
Dentro de seus corações

Quatro anos se passaram
Nada de bom ele via
A situação difícil
Entretanto ele sabia
Que um filho de Francisco
Tinha uma padaria

Só que era em outras terras
Pras bandas de Mossoró
Resolveu ir visitar
Acabar com o codó
Pegou o trem e partiu
Desta vez ele foi só

Deixou os filhos pequenos
Lá no sertão esperando
Ia falar com Arnaud
Nos planos ia pensando
O trem chorava correndo
Ele chorava sonhando

Ao chegar lá em Arnaud
Foi grande a alegria
Relembraram os bons tempos
Que na fazenda vivia
Acertaram um novo plano
Trabalhar na padaria

Cico trouxe a família
Prá esta grande cidade
Construíram uma casa
Foi grande a felicidade
Num terreno de Arnaud
Veja que facilidade

Quando há boa vontade
Amor, consideração
Fizeram casa de taipa
Formaram um mutirão
Com madeira, barro e telha
Houve a inauguração

Chico fazia a entrega
De bolacha e biscoito
Saia na bicicleta
Animado muito afoito
Aumentou a produção
Em sacos mais de dezoito

Já levava dois balaios
Um atrás outro na frente
E não escolhia horário
Meio dia no sol quente
Vendia muita bolacha
Animava toda gente

Os seus filhos aprenderam
Bem depressa a fazer pão
Aníbal era padeiro
Aderbal outra função
Jonas era ajudante
Selma ajudou no balcão

Ele sempre foi correto
Não queria nada errado
Arnaud viajou a praia
Passar lá um feriado
Fizeram raiva a Chico
Que ficou aperreado

Ele saiu escondido
Rumo à praia de Tibau
Carros passvam por ele
Olhava com o olho mau
Andou mais de sete léguas
A pé sem dar um sinal

Tudo porque tinha algo
Para com Arnaud falar
Não permitia ninguém
Que viesse atrapalhar
Andou todo o dia a pé
Até a noite chegar

Os carros buzinavam
E paravam a seu lado
Ele entrava no mato
Caminhava apressado
Ao chegar ao fim da linha
Estava todo rasgado

Ele sempre foi assim
Grande personalidade
Outro dia os fiscais
Aconteceu na cidade
Quiseram lhe humilhar
Mudar a sua verdade

Ele enfrentou os fiscais
Com bastante valentia
Não entregou a farinha
Se portou com maestria
Os fiscais nunca esqueceram
O feito daquele dia

Ele comprou um terreno
Na vila serra do mel
Levou a sua Maria
Foi morar perto do céu
Trabalhou com muito afinco
Merecia um troféu

Foi o lote de mais zelo
E também o mais cuidado
Os cajueiros mais verdes
Tudo limpo e cercado
Ainda hoje comentam
Está tudo registrado

Porém não é no papel
E sim em muitas memórias
Que registram nos anais
A mais intrigante história
De um homem muito humilde
Que merece toda glória

Seu lote assim permitia
Muitos cajus apanhar
Os melhores e mais doces
Que já se viu no lugar
E da serra ele vinha
A muitos presentear

Ele sofreu duro golpe
Perdeu dois filhos amados
Aníbal e Aderbal
Pela mão de Deus tirados
Deixando só a saudade
Nos corações destroçados

Chico ainda está vivo
Morando em Aracati
Pode crer tudo é verdade
O que foi contado aqui
Vai fazer oitenta anos
Em junho que vem aí

Estamos em fevereiro
Dois mil e oito é o ano
Vamos nos fixar no tempo
Que escorrega como um pano
Não espera por ninguém
Na tela do desengano

Hoje quem lhe dar apoio
É o seu filho caçula
Gosta tanto de seu pai
Que o ama, beija e adula
Jonas para vê-lo vai
Sempre dá uma escapula

Para efeito de registro
Vou lhe confessar assim
Foram trinta e oito anos
Que morou com os Amorim
Tempo de muita alegria
Porém tudo tem um fim

Deixo para o personagem
Um preito de gratidão
Por tudo que ele fez
Por nós com dedicação
O Arnaud falado sou eu
Sou grato de coração

Minha esposa sempre chama
Prá irmos a Aracati
Visitar Chico Deusdério
Matar a saudade ali
Relembrar todos os versos
Que eu versejei aqui

Tenho idade avançada
Já vi muitos homens sérios
Vi até na caminhada
Tocadores de saltério
Porém nunca vi igual
Homem de honra e moral
Como Chico Desidério


Arnaud Amorim

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