quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

A VIDA É UM PASSATEMPO

Entendi que a vida é um passatempo
Mas tenho minha idéia perseguida
Quero saber se o tempo passa na vida
Ou se a vida é quem passa no tempo

Defendo que a vida passa no tempo
Mas já vi tempo passado numa vida
Não desejo que esta querela referida
Termine se formando um contratempo

Peguemos então a linha do tempo
Vemos nela inserida alguma vida
Pois ela é dividida em entretempos

Sabendo que não é comprida a vida
Façamos dela um gostoso passatempo
E a vivamos com alegria merecida

Arnaud Amorim

DEOLINA

Grande exemplo de amor e de cuidado
Acolheste nossa irmã desde o inicio
Enfrentando dissabor e sacrifício
Adiantaria o teu corpo ser queimado?

Se não tivesses amor nada seria
Este amor que por si só não se define
Não foste o címbalo que retine
Foste amiga, companheira todo dia

Deixaria abandonada assim órfã?
Sozinha, sem socorro, nossa irmã?
Não, abdicaste dos afazeres teus

És um anjo de brandura há mais de um ano
Este amor não se encontra em ser humano
Vem do alto, vem do céu, é de Deus

Arnaud Amorim

SOCORRO

De repente, a biópsia e o resultado
Abalando toda tua estrutura
Dúvida, teria ou não a cura ?
O pior quadro de tua vida foi pintado

Não seria tudo um negro sonho?
Veio o stress, negritude e sofrimento
Enfrentaste o teu pior momento
Como agir num instante tão bisonho?

Isolamento total de todo mundo
Inquietação, dor, desalento profundo
Mas numa noite negra brilhou a luz

A tribulação produziu perseverança
Hoje estás cheia de esperança
Recebeste a vitória de Jesus

Arnaud Amorim

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A VIDA É UM PASSATEMPO

Na longa estrada corrida

A vida é um passatempo

O tempo passa na vida?

Ou a vida passa no tempo?


Arnaud Amorim

MOSSORÓ MÃE

Como uma mãe carinhosa me acolheste
De ti recebi amor e guarida
Teu solo e água me ofereceste
Ai passei trinta anos de minha vida

Deste-me esposa e filhos maravilhosos
Sorvi de te ti todos os ensinamentos
Ai vivenciei períodos maviosos
Labor e lazer, vivi áureos momentos

Quisera muito estar ai agora
A saudade de ti sempre me vence
Contingências mandaram-me embora

Não te esqueço, por ti derramo pranto
Considero-me filho mossoroense
Oh! Mossoró, terra mãe, te amo tanto!

Arnaud Amorim

POETAS MENTIROSOS

Todo poeta é um mentiroso nato
Ele sonha tanto e por isso mente
E mente até mais descaradamente
Como um cão velho que perdeu o tato

Basta sentir da saudade a fumaça
Sonha, verseja e mente nesta hora
Por um simples alguém que foi embora
Diz que o amou, o beijou, faz graça

Põe exagero em tudo que conta
Alucinações nos versos que monta
Sentimentos diz sem está sentindo

Ás vezes expressa muita crueldade
Sei lá, de repente, pode ser verdade
Este outro pode já está mentindo

Arnaud Amorim

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O VALENTE ROBERTÃO

Vou contar rapidamente
Um causo dos Monxorós
Narro assim bem de repente
É uma história feroz
Talvez lhe cause emoção
Vou falar de um sujeito
E tentar versar o feito
De um tal de Robertão

Ele era entroncado
Também muito corpulento
Bastante mal encarado
Tinha a força d’um jumento
Quando estava bem doidão
Brigava até com dezoito
Se os cabras fossem afoitos
Apanhavam de rojão

Quando chegava um chamado
Os policiais conheciam
Mandavam logo um “bocado”
De soldados que já iam
Enfrentar a besta-fera
E já pegavam o porrete
Pois ia rolar cacete
Já sabiam como era

- Vamos mudar o sistema
Todo mundo de soquete
Peguem um par de algema
E também os cacetetes
Não é brincadeira não
Quero um trabalho bonito
E hoje o nosso quesito
É prender o Robertão -

Uma noite numa festa
Lá no alto do xerém
Robertão com sua testa
Deu marrada em mais de cem
Quando a policia chegou
Ainda brigaram um tempão
E mesmo assim Robertão
Correu e não se entregou

Outra noite no Walfredo
Até eu vi desta vez
E me escondi com medo
Vou dizer o qu’ele fez
A súcia de vagabundo
Demonstrando ser valente
Robertão trincou os dentes
Deu mordida em todo mundo

Outra vez na passeata
A prefeito da cidade
Seria noite pacata
Tamanha tranqüilidade
De repente a confusão
Eu só via a zoeira
A turma da capoeira
Brigava com Robertão

Pareciam uns artistas
Destes de circo ou tv
Foi lá no meio da pista
E bonito de se ver
Não queira ver a usura
Os cabras brigavam fulos
E Robertão dava pulos
Com três metros de altura

Depois chamaram a policia
E a coisa ficou feia
Quando chegou a milícia
Era uma dúzia e meia
Se travaram no recoito
Os policias no cassetete
E robertão no bofete
Bateu em todos dezoito

Três dias o vi passar
Em frente à padaria
Ele vinha devagar
Não sei o que ocorria
Ele sentou lá na frente
Estava todo inchado
O corpo encalombado
Falou que estava doente

Isso tudo eu já sabia
Mas mesmo assim perguntei
O que se passado havia
Ele disse: - eu briguei
E não estou arrependido
Apanhei como um burro
Bati em muitos de murro
Fui preso como um bandido -

Neste dia eu indagava
Como ele conseguia
Porque tanto ele brigava
De fato, o que fazia?
Ele respondeu então:
- Dou cocorote e dentada
Chute, murro e cabeçada
Capoeira e empurrão -

- Dou pé na bunda e voada
Luto karatê também
Jiu-jitsu, dou pernada
Tapa-olho e vou além
Se entro na briga não saio
Sou um cabra muito ruim
Lutar pra mim é assim
Briga pequena é ensaio -

Se transformou Robertão
No terror lá da cidade
Pois em qualquer confusão
Já usavam de maldade
Sujando o nome de lama
Como se uma pessoa só
Na terra de Mossoró
Sustentasse esta fama

Quando ele aparecia
Em qualquer rua ou rincão
O povo então já dizia:
Cuidado! lá vem Robertão!
E corria todo mundo
Porém se alguém ficasse
E de cara o encarasse
O respeito era profundo

Em frente ao meu negócio
Lá morava um poeta
Numa tarde em seu ócio
Sentou de forma discreta
Robertão apareceu
Ele tremeu, mas ficou
De frente, o encarou
Naquele dia o venceu

Seu nome não quis citar
Pois não fui autorizado
Se ele quiser falar
Fica até testemunhado
Porá água em minha horta
Com o pau matei a cobra
E agora o que me sobra
É mostrar a cobra morta

Ultimamente estava
Todo picado de faca
A ferida lhe marcava
Como num couro de vaca
Pedia às enfermeiras
Talvez como um lenitivo
Façam aqui um curativo
Pra sarar minhas bicheiras

Havia uma enfermeira
Que era mulher casada
Robertão fez a besteira
De admirar a danada
Quando por lá ele a via
Dizia não sentir dor
Que só queria o amor
Daquela linda maria

Mas ela logo corria
Prá evitar o problema
O marido ela temia
Que soubesse do dilema
Já pensou a confusão
Que ela ia arranjar
Outro homem namorar
E ser logo o Robertão?

Ele era inteligente
Sentava ali na calçada
Bem da padaria em frente
Dizia com a voz cansada
Aqui ninguém mexe não
Me dê ai uma grana
Pois quero tomar uma cana
Quem garante é Robertão

Passo aqui de madrugada
Os cabras querem assaltar
Mas eu mando na negrada
Basta assim eu falar:
Aqui ninguém vai mexer
Pois Arnaud é meu amigo
E eu pastoro o abrigo
Dele enquanto eu viver

Eu fiquei bastante triste
Ao saber de supetão
Me falaram assim de riste
Da morte de Robertão
Quis lhe prestar este preito
Como simples homenagem
Narrando esta passagem
De algo que houvera feito


Arnaud Amorim

POLÍTICOS

P erpetuam-se indefindamente
O nde quer que sejam aprovados
L idam com um povo indiferente
I nstigam e assaltam os coitados
T emos sido bastante pacientes
I ndo às urnas, esperando soluções
C omo se isto fosse brincadeira
O nde vão parar com a roubalheira?
S ó vemos mentirosos e ladrões!

Arnaud Amorim

POLITICOS - 42 VERBOS

Coligar, politicar, discursar
Ambicionar, crescer, extorquir
Quebrar, desonrar, descumprir
Desrespeitar, difamar, ultrajar

Subir, delinqüir, perverter
Agredir, expugnar, viajar
Saudar, compelir, luxar
Derrubar, poder, eleger

Manobrar, roubar, transferir
Enrolar, corromper, sonegar
Arruinar, protestar, inadimplir

Agitar, esconder, sublevar
Mutretar, viciar, mentir
Esquecer, ferir, maltratar


Arnaud Amorim

MINHAS FLECHAS

Deus me deu cinco flechas preciosas
Cerquei-as de todo amor e cuidado
Amei-as e mais ainda teria amado
Para mim não são flechas, porém rosas

Criei-as, à minha maneira, embora rude
Por mim estariam sempre comigo
As teria na aljava em meu abrigo
Procurei segurá-las, mas não pude

Elas agem tal qual um passarinho
Que crescem e vão voando do ninho
Pensei que os filhos-flechas eram meus

Eles casam, ganham o mundo, vão embora
Ainda bem, nos socorrem nesta hora
São só filhos, não sou dono, são de Deus

Arnaud Amorim

UM HOMEM MUITO DILIGENTE

Edmilson sempre foi muito diligente. Enquanto seus irmãos dormiam, na madrugada silenciosa da fazenda, ele pegava sua enxada e corria para a várzea do açude, na intenção de plantar mais algumas covas de batata. As galinhas-dágua nadavam apressadas com sua chegada, deixando suas trajetórias riscadas na água. Na colheita, desejava juntar mais algum dinheiro para iniciar sua mercearia na cidade.

A limpa do mato estava marcada para segunda-feira. O inverno naquele ano começara cedo e o roçado de milho e feijão estava uma beleza. O mato também crescera rápido. Seu pai já havia chamado alguns trabalhadores e formado um adjunto, para limpá-lo. O escuro da madrugada fugia depressa, com a aproximação dos primeiros raios de sol. Já se ouvia o tinido forte do martelo batendo enxadas no terreiro. Os passarinhos voavam amedrontados. Edmilson, sempre previdente, já amolara sua enxada antes. Partiram todos para o roçado. A produção naquele dia seria grande. Para atiçar ainda mais a “negrada”, eles combinaram que, lá na limpa, quem chegasse por último, teria sua carreira de mato urinada por todos que concluissem em sua frente. Ele era forte e não iria permitir tamanha desfeita. O suor escorria em seu rosto, enquanto puxava rapidamente grandes enxadadas de mato verde. No meio da carreira de mato, inadvertidamente, viu a cor rubro-negra e branca da cobra coral se mexendo em seus pés. Rapidamente, bateu com o olho da enxada nela, matando-a. Já aprendera que limpar de enxada, era puxar cobra para os pés. Perdeu alguns segundos para matá-la. Por isso chegou por ultimo no fim da linha. Viu os companheiros, com algazarra, urinando com desdém, em sua carreira. Aquela afronta era forte demais para suportar. Ele era homem valente e não levava desaforo prá casa. Murmurando, quase cego de raiva, ainda pôde vislumbrar uma pedra no serrote próximo. Correu prá lá, balbuciando palavras desconexas e bateu com força com a enxada na pedra. Saltaram faíscas de fogo. Gritou que nunca mais limparia de enxada. Jogou a enxada amassada com o cotoco de cabo, com força, no matagal do serrote. Um bando de anuns pretos levantou vôo. Todos ficaram em silencio. Só se ouvia ao longe um passarinho cantando: Bem-te-vi, Bem-te-vi.

Ainda cuspindo brabeza, voltou para casa, para onde foi obrigado a levar o desaforo. A cabroeira retomava o serviço. Seu pai, ao vê-lo, longe, na curva de mato, entendeu que algo estava errado. Ao se aproximar, perguntou:

- O que houve, meu filho?

- Perdi uma aposta e quebrei a enxada! Jurei que nunca mais 'pego' numa enxada, papai!

Seu pai ficou calado por alguns instantes. Respeitou sua decisão. Depois desabafou:

- Tem nada não, meu filho. Vamos terminar de engordar o garrote da vaca mimosa e vou vender para ajudar em sua mercearia. Sim, este era seu sonho. Abrir uma mercearia na cidade.

Aquela madrugada estava muito escura. Edmilson saltou da rede, ainda muito cedo, pegou o cabresto e se dirigiu para o cercado. Daria para enxergar o cavalo, àquela hora?. As madrugadas têm a mesma cor dos burros que fogem. Ele estava muito animado. Seria aquele o dia da inauguração de sua mercearia. Chegando à cidade, se dirigiu até o mercado e com os olhos brilhando, abriu a porta. Tudo já estava arrumado e limpo. As mercadorias estavam colocadas, afastadas umas das outras, nas prateleiras. O capital era pequeno e não dava para enchê-las. Os sacos de cereais ficavam abertos, com o milho e o feijão de corda, colhidos nos roçados de seu pai. Tudo à mostra do freguês. Naquele primeiro dia, ele patrocinara uma rodada de cachaça para os clientes que desejassem esquentar. Tratava a todos com muita alegria e motivação. Era um dom que trouxera e o desenvolvia com muita maestria.

Passado algum tempo, sua freguesia crescia. O comentário se espalhara na cidade. Era na mercearia de Edmilson, o melhor atendimento. Até as prateleiras estavam, agora, mais sortidas. Ele se desmanchava em sorrisos. Colocou para vender, até as massas da padaria de Petronilo. Todos acorriam para comprar os pães e biscoitos em sua mercearia. A padaria passou a fabricar quase toda produção para ele.

Depois que chegaram os pedidos de enxadas, foices e campinadeiras, não havia mais onde colocar. Teria mesmo que providenciar um depósito, ou outro local para sua mercearia.

Ele sempre voltava para a fazenda, dali a três quilômetros, montado em seu cavalo pintadinho. Já estava acostumado à cela macia e ao galope cadenciado. Sempre trazia presentes para sua mãe. Latas de biscoitos e cortes de tecido. No trajeto, as idéias também passeavam por sua cabeça. Alugaria um local para o depósito, ou escolheria outro ponto comercial maior, onde pudesse instalar também uma padaria? Deixaria assim, de comprar as massas a Petronilo. Depois de muito matutar, resolveu alugar um ponto, bem maior, no outro lado do mercado. Ali havia espaço para tudo.

Chegando à fazenda combinou seu plano estratégico com seus pais. Eles concordaram. Estavam vendo sua ascensão. Ele chamou o caseiro Chico Deusdério, para ir deixá-lo na estação, no dia seguinte. Iria de trem, até a cidade de Souza e de lá até Campina grande, de ônibus. Na madrugada seguinte, Chico Deusdério fez a tarefa de pegar e selar o cavalo.

Chico, animado, sabia que iria na garupa e voltaria, sozinho, no cavalo pintadinho.

O Trem chorava lentamente na curva, enquanto a fumaça formava um redemoinho negro e subia para pintar de preto, as nuvens lá em cima.

Edmilson comprou todos os equipamentos de sua padaria. Aproveitou e pesquisou os preços de várias mercadorias. Achou-os bem mais baratos. Comprou também várias ferragens para aumentar seu estoque. Adquiriu também um cofre, com chave e segredo. Os comerciantes, por onde ele passava, admiravam muito sua destreza e desenvoltura, bem como gostaram de suas compras, todas pagas à vista.

Agora era apressar a instalação das máquinas e construir um forno grande de alvenaria. Encomendar também na marcenaria de seu Chagas um balcão bonito, com locais para expor os produtos. Especulou, silenciosamente, no intuito de encontrar um bom padeiro. Soube que havia um tal de Dãozinho que era mestre de massas e o melhor da região. Contratou também o mecânico Chiquinho de Nelito, para acompanhar a instalação do motor, cilindro e do gerador. Afinal, tudo teria que funcionar acionado por motor à explosão, haja vista não haver, ainda, energia elétrica. Ou melhor, em breve haveria , em seu estabelecimento. Comprara também um gerador em Campina Grande.

A inauguração do seu novo negócio foi um sucesso. Teve que convidar mais algumas pessoas para ajudar no balcão. Também resolvera dar os pães a todos, como promoção de abertura de sua nova padaria. Por isso foi grande a aglomeração de pessoas, naquela tarde de sol. Dãozinho fizera vários pães doces de coco, que eram assados em formas grandes. O cheiro de pão assando se espalhara nas imediações. Além do convite entregue, de casa em casa na cidade, agora era o cheiro gostoso dos pães de Edmilson.

Como a produção de massas secas, na semana seguinte, fora bastante grande, ele pensou em contratar o caminhão de Miguel Silva, para tentar vendê-las, na cidade de Umarizal. Teria que levar tudo, segunda-feira, dia de feira, naquela cidade. O caminhão estacionou cedinho, ainda nem rompera a aurora. A estrela d’alva assistia tudo, admirada, enquanto era mandada embora, por um raio de sol que se projetava em sua direção.

Todos os ajudantes carregaram as massas, sob a orientação de Dãozinho. O caminhão dobrou a esquina, coberto com uma lona verde. Ao passarem pela cidade de Lucrecia, no caminho, ele aproveitou e desamarrou a lona. Tirou da carroceria uma arroba de bolachas e ali mesmo, enquanto tomavam um café com bolacha, já aproveitava para mostrar o sabor e a qualidade de seus produtos. Numa volta rápida pela rua daquele comércio, ele vendeu a metade da carga. Resolveu suspender as vendas, para poder continuar viagem. Em Umarizal usou a mesma estratégia. Antes do meio dia, já havia vendido quase tudo. Deixou apenas, uns poucos pacotes, para mostrar a mais alguns comerciantes. Ao retornar, já trouxera pedidos para a próxima feira.

Á tarde, cansado, voltou com o caminhão vazio e os bolsos cheios. Ao voltar, à noitinha, para a fazenda, seus pensamentos voavam rapidamente, pulando de estrela em estrela, em turbilhão. Se as vendas de Umarizal continuassem crescendo, poderia, talvez comprar o seu próprio caminhão. Assim não pagaria mais frete a Miguel Silva.

Entretanto, desejava ardentemente, construir sua casa. Já escolhera até o local. Seria naquela esquina, na rua adjacente à padaria. Afinal, seu namoro com Elione agora tomara ares de compromisso mais sério. Eles pensaram seriamente em casar.

Desde a tarde, os olhos de dona Amélia, sua mãe, não saiam do baldo do açude. A procura de Edmilson que não chegava. Sua alegria era imensa, ao ouvir o trote do cavalo. A festa era geral, quando ele subia a rampa do sangradouro do açude. E maior ainda, quando entregava mais uma lata de biscoitos. O café da manhã seguinte, não seria somente qualhada ou pão de milho, e sim, seria reforçado com biscoitos.

Suas tarefas agora aumentavam, consideravelmente. Iniciara a construção de sua casa. Diligente, como sempre fora, era o primeiro a chegar, ainda com escuro, nas obras da construção. Já preparava o arisco e cimento, misturava-os e deixava os andaimes prontos. Ao chegar o pedreiro, não havia mais tempo a perder.

As vendas da mercearia, agora com a padaria, cresceram a olhos vistos. Os outros comerciantes, olhavam de lado, talvez com inveja. Mas fazer o quê? Eles não tinham o talento de Edmilson. Na feira seguinte, Dãozinho preparou ainda mais biscoitos e bolachas. Edmilson fora obrigado a chamar mais um padeiro para trabalhar à noite e aumentar a produção. O caminhão de Miguel Silva, naquela segunda-feira, levou uma carrada bem maior. Na passagem por Lucrecia, vários compradores já esperavam. A mesma coisa, quando chegaram a Umarizal. Ele resolveu alugar um local, no centro, onde poderia armazenar e expor as mercadorias. Além das massas, também levara ferragens para vender aos agricultores. Enxadas, picaretas, até campinadeiras. Os produtos eram de excelente qualidade. Os preços eram bons. Tudo concorria para o negócio crescer. Antes da feira terminar, ele já vendera tudo, mais uma vez. Chegaram de volta, até mais cedo, naquele dia. Tomava logo conhecimento das boas noticias. As vendas no balcão também aumentavam.

Sua casa ficava muito bonita. Além de ser na esquina, colocou no projeto um muro que a rodeava desde a esquina até o final do quarteirão. Terminados os serviços de construção, marcaram a data do casamento.

Foi um dia inesquecível, ao permanecer ali no altar da matriz. Seu coração batia cada vez mais forte. Até vislumbrar, o cortejo, seguido por sua doce amada, sentiu uma emoção indescritível. A lua de mel fora sempre intercalada com um dia de trabalho e uma noite de quimeras de amor.

Ele pensou em trazer uma de suas irmãs, lá da fazenda, para ajudar no balcão. Iria combinar isso com sua mãe. Sua irmã poderia agora morar em sua casa e estudar na cidade.

Precisava viajar mais uma vez a Campina Grande. As mercadorias estavam acabando. Até pensou em pegar o trem logo no dia seguinte.

- Ah, não! Primeiro vou à fazenda, deixar alguma coisa prá mamãe. Aproveito e combino com ela, sobre o convite de minha irmã. Pensou baixinho.

Seus pais acharam a idéia excelente e trouxe Rita. Bonita e simpática, encaixou certinho na função.

Passados dois dias, ele pegou o trem na estação, indo pelos mesmos trilhos para as bandas da Paraíba. Na manhã seguinte, após fazer todas as compras, resolveu visitar uma loja de caminhões. Gostou muito daquele caminhão verde-claro.

- Se você dividir em duas parcelas eu levo o caminhão.

- Posso dividir, Seu Edmilson, apenas cobro os juros. Porque assim, sem entrada, o senhor sabe, não é?

- Sei, mas estou propondo pagar a metade agora e o restante em trinta dias. Se você fizer sem juros, levo o caminhão.

- Fechado.

Naquele dia, Edmilson não voltou de trem. Teve que contratar um motorista para levar o caminhão até sua cidade. Carregou suas mercadorias naquele caminhão novinho. Parou várias vezes, só para que seus olhos fotografassem aquela imagem inesquecível. Na viagem de volta, aproveitou para receber do motorista, alguns ensinamentos teóricos sobre seu oficio. Viajaram naquela noite de lua, porque a hora era fria. A lua corria lá em cima, olhando para o caminhão. E o caminhão, aqui em baixo, também corria. Em cada alto da estrada ele também projetava o olhar de seus faróis para aquela lua cândida. O seu pensamento também corria, rápido, igual ao caminhão.

- Quem vou contratar para dirigir este caminhão? Pensou baixinho. Acho que vou chamar Raimundo. Além de estar parado, é meu cunhado.

Na manhã seguinte, em pleno dia, ele estacionava aquele caminhão novo em frente ao seu comércio. Ao descer, as pessoas olhavam, sem acreditar no que viam. Após o almoço, ele foi deixar o motorista na estação, para voltar. Raimundo já ia todo orgulhoso na direção.

O seu negócio agora estava bem estruturado. Máquinas novas, bons padeiros, produtos excelentes e um caminho zerinho. Assim passou a trabalhar dobrado. O negócio se expandia e ele passou a visitar outras cidades, próximas à sua. Todos os meses viajava à Campina Grande, para comprar novas mercadorias a seus fornecedores. Aproveitava a viagem e na ida levava algodão comprado a seus clientes. Trazia as mercadorias mais variadas, tanto para o trabalho da agricultura, como para uso doméstico. Máquinas de costura, louças, porcelanas etc.

A demanda era grande. Um caminhão não dava mais. Teria que comprar outro logo. E por que não? Este seria um chevrolet 1963, do ano, zerinho.

Passados dois anos, sua irmã, casou e teve que sair. Ele sentiu muito sua saída. Contudo só havia uma alternativa, convidar logo, não uma, mais duas irmãs, para substituí-la . Assim, chamou Cacilda e Ivani. Além de muito responsáveis, Ivani tinha uma caligrafia uniforme e bem desenhada. Os livros da empresa, passaram a ser escritos daquela forma.

Três anos depois, a situação estava cada vez mais consolidada. Os negócios iam a todo vapor. Apenas sentia a ausência das meninas que também haviam casado. A alternativa, foi convidar Socorro, uma de suas irmãs mais novas. Além de ajudar na padaria, ela também estudava na cidade. No ano seguinte, Socorro fora convidada para assumir o trono de rainha da festa do município. Ela tinha uma beleza singular.

Nas festas do município, que duravam uma semana, ele fora convidado pelo padre para coordenar o trabalho de umas das barracas do padroeiro. Tinha que aceitar. Não poderia se negar a um convite do vigário.

À noite, foi à cidade de Martins, contratar junto a um amigo seu, Juiz da cidade, uma banda de música. Já no primeiro dia de festa, ainda de madrugada, a cidade acordava, sobressaltada, ouvindo aquele dobrado. A bruma escura dava lugar a manhã festiva que chegava. Todos saltaram de suas camas e saíram às portas. As ruas encheram de gente. A banda de música descia pelo alto da estação, com destino à barraca azul, tocando, ora dobrados cadenciados, ora músicas maviosas. Os preás atônitos, corriam em disparada, no baixio próximo. Ninguém jamais ouvira antes aqueles sons, naquelas paragens. Foram os tempos mais memoráveis que Almino Afonso, cidade do oeste potiguar presenciou, patrocinados por Edmilson, seu filho ilustre. Um homem muito diligente.

Edmilson recebeu convite para registrar sua candidatura a prefeito da cidade...

Mas esta é outra história...

Arnaud Amorim

domingo, 27 de janeiro de 2008

CARRINHO DE LATA

Hoje vejo brinquedos bem variados
Elétricos, movidos a bateria
Coloridos, de todas cores pintados
Assim brincam as crianças hoje em dia

Diferente do meu tempo de menino
Não havia toda esta produção
Só tive um carro bem pequenino
Feito de lata e puxado num cordão

Hoje os pais compram demais para seus filhos
Guitarras, robôs e trem movido em trilhos
Eles merecem vida mais pacata

Batem, quebram, não sabem valorizar
Só aprendem a cada vez mais gastar
Brinquei bem mais com meu carrinho de lata


Arnaud Amorim

FALA, MOISÉS!

Mentalizo o objeto, a imagem ou feito
E tento exprimi-lo, da melhor maneira
Vou juntando palavras, qual brincadeira
Goteja inspiração dentro do meu peito

Meu pensamento voa pelo espaço
Numa estrela longe, de repente, esbarro
Qual oleiro que manuseia o barro
Expresso meu jeito na peça que faço

Penso, escrevo, altero e corrijo
Ponho barro mole se ele está mais rijo
Olho meu poema da cabeça aos pés

Qual Michelangelo no mármore fizera
Busco a perfeição que o poeta venera
Ao ponto de dizer: Fala Moisés!


Arnaud Amorim


TER E NÃO TER

Tu tens muita riqueza
Eu só sei fazer poesia
Tens bastante avareza
Eu só tenho a simpatia
Tu possuis muitos teréns
Valorizes meu empenho
O que tu tens eu não tenho
E o que tenho tu não tens

Tu tens diversas fazendas
Eu tenho uma padiola
Tens casas e muitas tendas
Eu toco minha viola
Juntastes muitos vinténs
Mas respeites o meu lenho
O que tu tens eu não tenho
E o que eu tenho tu não tens

Tu tens diversas mulheres
Eu só tenho minha amada
Ordenas teus pareceres
A ninguém eu mando nada
Acabes com teus desdéns
Não sou dono de engenho
O que tu tens eu não tenho
E o que eu tenho tu não tens

Andas num carrão do ano
Eu ando de bicicleta
És um patrão soberano
Eu sou um simples poeta
Mas me dê os parabéns
Pois cantar aqui eu venho
O tu tens eu não tenho
E o que tenho tu não tens

Tu não cantas nem bolero
Eu faço uma cantoria
Tu só falas lero-lero
Mas eu rimo todo dia
Vá comer os teus xeréns
Tua voz é de rouquenho
O que tu tens eu não tenho
E o que tenho tu não tens

Tu não tocas instrumento
Eu toco meu violão
Tu não cantas nem p’ro vento
Faço rimas e baião
Assim mesmo ainda vens
Com esta corda de sedenho
O que tu tens eu não tenho
E o que eu tenho tu não tens

Tu fazes maracutaia
Meu negócio é correto
Tu dominas outra laia
E roubas mesmo discreto
Leves logo teus reféns
Para um país caribenho
O que tu tens eu não tenho
E o que eu tenho tu não tens

Pensas que es bonitão
Eu sou simples e cheiroso
És muito espalhafatão
Eu sou muito carinhoso
Vá correr atrás dos trens
E pentear o teu grenho
O que tu tens eu não tenho
E o que eu tenho tu não tens

De fato tu tens dinheiro
Eu tenho a rima perfeita
Tu farreias o ano inteiro
Não faço disso desfeita
Podes pegar os teus bens
E ates no rabo do enho
O que tu tens eu não tenho
E o que tenho tu não tens

Arnaud Amorim

RESPOSTA A CAMÕES

Lamento saber que estiveras triste
Pela alma que perdeste descontente
Que ela esteja no céu eternamente
E que convivas com ela se a viste

Mas lá no assento etéreo onde subiste
Memória daqui não se consente
Portanto todo aquele amor ardente
Levaste contigo quando partiste

Agora viste que nada mereceste
Nem memória do que aqui ficou
Ou a mágoa que no tempo já perdeste

Nada peças a Deus que te levou
Porque cedo daqui também partiste
Posto que tua vida já encurtou

Arnaud Amorim

sábado, 26 de janeiro de 2008

TERCEIRA IDADE

Se a vida só tem cinco idades
Posso dizer então que vivi três
Assim vejo que pra mim chegou a vez
De viver com a maior das intensidades

Aproveitar cada minuto que me resta
Assistir TV, tocar meu violão
Formosear meu rosto e o coração
Fazer da minha vida uma grande festa

Deixar pra trás todos os dissabores
Sentir a fundo o perfume das flores
Mandar e-mails para os amigos meus

Edificar aqui um forte abrigo
Andar com Jesus, meu melhor amigo
No fim fechar os olhos e estar com Deus.

Arnaud Amorim

ECOLOGIA

Pulam de galho em galho os primatas
Contudo não cometem desvarios
Os peixes sobem nadando pelos rios
Mesmo assim não maculam as cascatas

Os pingüins convivem na geleira
Mas respeitam a lei universal
As abelhas moram no oco do pau
E não se presencia nenhuma asneira

Nascem os pássaros em ninho fecundo
Eles têm bem maior respeito ao mundo
A fauna vive em perfeita harmonia

Só o homem destrói o meio ambiente
Assola tudo do oriente ao ocidente
Somente ele danifica a ecologia

Arnaud Amorim

PULMÃO FURADO

Os grileiros desmatam a Amazônia
Num ritmo egoísta e bem veloz
Perpetrando um crime muito atroz
Ligam serras até à noite, na insônia

As árvores ainda choram a seiva bruta
Enquanto caem qual prédios implodidos
Não há lei nos poderes constituídos
É Incoerência total e absoluta

Enquanto devastam a fauna e a flora
A mata, mesmo muda, geme e chora
O mundo verde vira campo pelado

Será que ninguém toma providência?
Com lei, ordem, rigor e veemência?
O pulmão do mundo está furado!

Arnaud Amorim

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

SOGRA BRABA - Parte I

Marta estava inquieta. Não estava entendendo esta pressa. Por que tudo assim tão rapidamente? Ser pedida em casamento num dia e já casar no dia seguinte?
- Julio, vamos dar mais um tempo. A gente se prepara melhor. Precisamos ainda de muitas coisas. Preparativos para um casamento não é brincadeira, não.
- Não, Marta, sou homem de palavra. Já falei e não vou voltar atrás. Vamos casar amanhã!
- E onde a gente vai morar, Julio?
- Aqui mesmo na casa de sua mãe. A gente passa um tempo, enquanto arruma um local.
- Oh, homem de Deus!. Toda noiva precisa se preparar. Nem moça bulida casa com essa pressa. Ninguém merece !
- Vai dar tudo certo, meu amor. Você vai ver...
Julio não sabia um terço do rosário de dona Marocas. Mulher valente e mandona. Era a mulher e o homem da casa. Bordava à máquina e mandava em tudo. Seu Juvêncio, coitado, era manobrado como um boi de venta furada. Manicaca. Dona Marocas era quem dava as ordens. Ou mudava, segundo seu duro querer.
Quem iria impedir um plano tão objetivo como aquele? Seria melhor casar logo mesmo. E este dia tão sonhado chegou logo, questão de uma noite. Casaram na capela. Pouquíssimas pessoas. Nada de cerimônia, ou cortejo nupcial. Só as recomendações do padre e a bênção de Deus. Mas os noivos, assim mesmo, foram os astros mais belos e brilhantes. Julio com um paletó azul marinho e Marta de véu e um vestido branco. Era a noiva desejada por qualquer poeta.
Depois, alguns comes e bebes na casa de Marta. Geraldo já estacionara sua rural para levá-los para a praia. Lua de mel. Tudo perfeito, não obstante, acertado tão rapidamente.
Tantos sonhos de amor realizados. Tantas quimeras materializadas na sublimidade do amor, para vir desaguar depois na casa de dona Marocas. Julio nem sabia que tudo já estava previamente ordenado. Coitado, não pensara que estava saindo do céu e entrando no inferno. O quarto, o local de cada móvel, a cama com a cabeceira para o lado da janela, até o enfeite sobre o criado mudo, ninguém podia mover nada. Dona Marocas não permitia.
Logo na manhã seguinte, pouco antes das cinco horas, o clarão da aurora já prenunciava um dia limpo, de sol. Dona Marocas dava as primeiras ordens.
- Acorda, Julio. Tá na hora de levantar, gritou lá do quarto dela, com sua voz carrancuda por sobre a meia parede.
- Vá ajudar aos meninos a carregar água. Quero os potes todos cheios hoje.
- Deixe que eu vou, Marocas.. Não acorde Julio, não. Diz Juvêncio, saindo com a lata.....
- Ei, volte, aqui quem manda sou eu!. Juvêncio parou como um cavalo puxado pelo cabresto. E voltou em cima dos cascos, com a lata vazia.
Julio cochichou baixinho:
- E ai, Marta?
- Vá homem! Disse ela.
- É longe?
- É lá na outra rua.

Continua.......

SOGRA BRABA - Parte II

Julio foi obrigado a sair de seu aposento nupcial para ir buscar água no charafiz. Marocas poderia ter incumbido Gilberto, irmão de Marta, para fazer esta tarefa. Afinal, ele não tinha o costume de carregar latas dágua. Entretanto, aquele menino só vivia agarrado com suas revistas, já amareladas pelo manuseio. Sentava-se no sofá da sala e ficava, o dia todo, calado, com os olhos fixos naquelas histórias de quadrinhos. Julio balbuciou, baixinho, somente para os seus botões:
- Diacho deste menino preguiçoso!. Só quer vida boa! Certamente quer ser doutor, ou até bancário. Lendo tudo que vê na sua frente, por certo quer ser escritor.
A disciplina dos três filhos era feita com mão de ferro. Dona Marocas mantinha, pendurada no armador da sala, sua palmatória. E a usava com rigor, em qualquer travessura que eles fizessem.
Tudo dela era guardado a sete chaves. Tudo trancafiado. Seus objetos de uso pessoal eram todos marcados. Ela escrevia um "M" bem desenhado. Prato, colher e copo. Até os ovos das galinhas que ela trazia lá do chiqueiro, os pintava com aquele grande "M" vermelho. E ai de quem ousasse pegar num deles.
À noite, deitado, ainda com o corpo dolorido e as mãos ardendo, pelo esforço daquela manhã, Julio começou a entender que sua estadia ali seria muito tormentosa. A não ser que rasgasse o galo e jogasse as penas sobre Marocas e mostrasse a ela com quantos paus se faz uma balsa.
Agora era deixar isso prá lá e procurar desfrutar dos deleites do amor com sua mulher, nova e bonita e cheirosa. Afinal eles ainda estavam em lua de mel.
No dia seguinte, após o café, antes de Julio sair para o trabalho, Marocas, entrou em seu quarto balançando o espanador, e colocando cada coisa em seu lugar.
- Cadê o enfeitinho que coloquei aqui sobre o criado mudo? Quem teve o atrevimento de tirar daqui? E apontava com o cabo do espanador.
Ah, não, não agüento mais, vai ser agora, pensou baixinho Julio. Ontem me acordou para carregar água e hoje, vem me encher o saco?
- Eu!!!. Julio levantou-se como um soldado em posição de continência.
- Pronto, fui eu...e agora?..o que é que vai dar?. E puxe daqui! A senhora manda da porta prá lá. Aqui no meu quarto, mando eu! Bradou para todo o quarteirão ouvir.
Marocas ficou muda, parada, os olhos fixos e caiu tesa no chão. Depois começou a tremer como vara verde.
- Você vai me matar, desgraçado!
Muitos espetáculos como este se passaram naqueles dias. Julio não podia mais permitir que aquela mulher, mandona e implacável, dominasse tudo.
Nove meses depois, Marta se preparava para colher os frutos do seu amor.
Á mesa, no café da manha, Julio exprime a vontade de levar Marta para fazer o parto na Maternidade Santa Rita.
- De jeito nenhum, ela vai é para a Casa de Saude, assevera Marocas.
Ninguém imagina o turbilhão de pensamentos que passa pela cabeça de Julio. Ver sua esposa com aquele barrigão e por cima com papeira. Mas o pior era enfrentar uma sogra tão braba. Marta teria condições de ter o menino naquelas condições? Não, não teria. O médico já marcara o dia da cesariana. Ademais, Marta teve que esconder a papeira, com um lenço. Doença miserável e contagiosa.
Não foi menino, como ele esperava. Agora ele era pai de uma linda menina. Ao voltar para casa, a situação piorava cada vez mais. Além de já mandar em tudo, Marocas agora mandava também em sua neta recém chegada. Se fosse só isso, estava bom.
- Ei, você vai dormir na sala. Quando terminar o resguardo, você volta.
Parece que suas tentativas de quebrantar a sogra, não tinham surtido muito efeito. Marocas, a cada dia, ficava mais braba e indomável. Implicava com tudo. Arrumação da casa, do quarto. Seu Juvêncio, coitado, já deixara ela montar de vez. Ela teimava até com as galinhas do chiqueiro, lá no muro.
Mas Julio não se achava mole não. Pelo contrário, ele era também mais brabo do que um siri dentro de uma lata.
Como conviver assim com sua sogra?
Destarte resolveu procurar casa para alugar e sair. Com seu ordenado da cervejaria já dava para pagar o aluguel. Mesmo que fosse residir lá no rabo da gata, ou em baixo da ponte. Morar com uma sogra braba como aquela, não dava mais.

Arnaud Amorim

ESCOLAS DE SAMBA

As escolas têm arte e magia
Têm mulatas, rainhas e sambistas
Baterias tocadas por ritmistas
Têm enredos com muita poesia

Baianas rodam como carrossel
Portas bandeiras levantam estandartes
Os artistas apresentam suas artes
Parecidas com a grande babel

Já trabalham durante o ano inteiro
Gastando energia e dinheiro
Tudo isso em busca da vitória

Num quadro bastante competitivo
É um grande trabalho coletivo
Só por uma hora e vinte de glória


Arnaud Amorim

ARMA DE BRINQUEDO

Os marginais usam armas de brinquedo
Mas também usam bala verdadeira
Não sei quando é real ou brincadeira
Esta troca mortal faz muito medo

Adianta aprovar lei do armamento?
Ou a arma de brinquedo proibir?
Os delitos deixariam de existir?
E haveria paz neste momento?

Com certeza usariam pedra ou pau
A resposta está no homem que é mau
O sangue jorraria do mesmo jeito

Enquanto não encher o coração
Do homem com amor e educação
Levaremos balaço em nosso peito


Arnaud Amorim

CPMF e TAM

C riaram este imposto provisório
P ostergaram-no indefinidamente
M as o congresso foi muito decisório
F indando esta cobrança indecente

T odos eles muito incompetentes
A cabaram somente de uma vez
M uitas vidas de pessoas inocentes

Arnaud Amorim

A I D S

A gora vou lhe falar
I niciando o assunto
D eixe logo lhe avisar
S eja vivo e não defunto

A ntigamente havia
I menso respeito ao parceiro
D iante disso crescia
S aúde, amor e dinheiro

A gora a coisa mudou
I nvertendo o papel
D everas modificou
S exo agora é bordel

A umentou muito a doença
I ntensificando o uso
D isseminando esta crença
S ó se ouve o abuso

A TV já anuncia
I nformando ao povão
D izendo que a putaria
S ó aumenta a maldição

A IDS é um mal muito forte
I sto ninguém vai negar
D oença que traz a morte
S em ter a quem apelar

A ssim há homem e mulher
I mitando bacanal
D emonstrando que só quer
S atisfação sexual

A mais triste desavença
I sto trará sofrimento
D esenvolvendo a doença
S em tomar conhecimento

A estatística já diz
I nforma seguramente
D oença mais infeliz
S e propaga velozmente

A prostituição fluiu
I sto trouxe perdição
D eus com sua mão puniu
S em nenhuma acepção

A boa nova é legal
I nventaram a camisinha
D eve-se isolar todo o mal
S alvando pinto e pintinha

A ssim se cuide bastante
I nteraja com a razão
D ivulgue isto adiante
S alvando toda a nação

Arnaud Amorim

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A BIBLIA

O que vejo na Bíblia importante
São todas as profecias cumpridas
Muitas verdades nelas já contidas
Reveladas até o presente instante

Viu Isaias vários séculos atrás
Antes de nascer aquele menino
Que ele teria diferente destino
Seria Deus forte e Príncipe da paz

Profecias de homens não têm fundo
Já marcaram mil vezes o fim do mundo
Contudo nada se concretizou

Um dia Jesus disse eu sou a luz
Eu vim para morrer morte de cruz
Esta palavra é do pai que me enviou


Arnaud Amorim

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

23 DE JANEIRO

Pedi a Deus inspiração
Pra escrever meu poema
Ele não deu
Doeu
Também quis imitar os seus profetas
Coisas divinas e secretas
Ele não permitiu

Ele não foi solidário
Nem hoje
Dia do meu aniversário
Até o tempo
Negou-me suas cores
De aquarela
Ficou branco
Cinza
Baço
Deixou minha visão destorcida
Não vi nenhuma folha caída
No outono de meus anos
Desenganos

Balançar a minha vida
Não quero
É coisa demais
Ficou pra trás

Quero mais olhar o futuro
Escuro
Não obstante está tateando
Espero porém o lume do relâmpago
Mesmo que seja seguido do trovão
E que esta cor sem cor
De branco gelo
Se condense em chuva
Água
Pura
Lave-me
Limpe os céus
Do oriente até o ocidente
Dê-me a visão de um lindo ocaso
De arrebol
E me dê um lindo por do sol
Mitigando as dores dos meus versos
O ano inteiro e
Hoje, 23 de janeiro.

Arnaud Amorim

SONETO

Quantos temas já tratados em seus versos
Narrados através de dois quartetos
E no final fechados em dois tercetos
Sobre tudo que há no universo

Todos os campos já foram explorados
Sempre contados da forma mais fiel
Partindo aqui da terra até o céu
Por poetas os mais diversificados

Quantos versos, amantes e seus amores
Com os perfumes das mais perfumadas flores
Na abrangência do branco até o preto

Procurei em tudo na natureza
Encontrei temas de rara singeleza
Mas nada igual à beleza do soneto

Arnaud Amorim

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

MEU POEMA

Tentei as rimas para o meu poema
Busquei as palavras mas nenhuma veio
Assim ele ficava cada vez mais feio
Não houve jeito nem estratagema

Lembrei então de suplicar a Deus
A inspiração que deu a seus profetas
Filho, não me peças coisas tão secretas
Faças assim mesmo com os versos teus

Engendrei termos, saiu tudo truncado
Sem rima, verso, ficou tudo errado
Não tive a verve da inspiração

Clamei de novo, oh Deus sempiterno
Tem compaixão, sê comigo terno
Ele mandou: faças com teu coração


Arnaud Amorim

ENTREVISTA SOBRE ALEGRIA

De que é feita a alegria? satisfação
E de que mais? prazer e contentamento
Por onde ela passa? divertimento
Tem mais alguma irmã? a exultação

Um dia ela acaba? provavelmente
Alguém toma seu lugar? a tristeza
Ela exprime algum visual? a beleza
Como vivo com ela? alegremente

Quem a machuca e faz chorar? a dor
Quem mais a maltrata? o desamor
Como um faminto pode tê-la? com pão

Quem sorrir sem possuí-la? o palhaço
Onde mais posso senti-la? no abraço
Diga onde achá-la? no coração

Arnaud Amorim

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

SEXO FRÁGIL

Certamente foi obra do machismo
Cognominar a mulher de sexo frágil
Talvez por ser o homem até mais ágil
Ou quiçá fruto do seu mero egoísmo

Porque no campo da sexualidade
Homem não chega nem perto da mulher
Ela sim, é forte faz as vezes que quiser
Igual à deusa-mãe da tempestade

Parece que tem mesmo acesa a chama
Sempre pronta aos amores sobre a cama
Independente dos estágios da potência

Já o homem, coitado, a carne é flácida
Só deseja no futuro a vida plácida
O frágil é ele, com sua aquiescência


Arnaud Amorim

DESFECHO DA VIDA

Que desfecho pode ter a nossa vida?
Penso nisto com muita perplexidade
Se nós, com toda essa fragilidade
Obteremos a vitória prometida?

Acreditar só numa perspectiva
Deixa-me chateado e muito triste
Porquanto se só esta vida existe
Estamos no caos e iremos à deriva

Somos os mais infelizes deste mundo
Mergulhados no desgosto mais profundo
Se acreditamos somente nesta vida

Não! Deus não é espírito de vingança
Nos criar à sua imagem e semelhança
E findar no pó sua obra mais querida

Arnaud Amorim

A CRIAÇÃO

Não há nada que possa ser comparado
Ao momento singular da criação
Ao Deus falar com voz tal qual trovão
E do nada tudo passou a ser criado

Não existe em toda história do universo
Nenhum feito, obra, ou coisa igual
Comparável ao gesto monumental
Quando Deus poetizou num simples verso

Nem em todo decurso da ciência
Se encontrará ato da mesma essência
No passado, presente, ou no porvir

Nenhum vivente discerniu este interim
Quando Deus com poder falou assim
Haja!...e tudo veio a existir

Arnaud Amorim

domingo, 20 de janeiro de 2008

O AMOR

O amor é uma força inexplicável
Que vibra em nosso peito, incontida
Não tem forma nem cor, mas é palpável
É sol que dá sentido à nossa vida

Sara e levanta o sofrido enfermo
Corta e lapida o bruto coração
Germina e brota vida em galho ermo
É a fonte de toda inspiração

Faz jorrar água doce no deserto
Tira a saudade de quem está perto
Quer sejam ricos ou mesmo plebeus

O amor é a profundidade da riqueza
Enche de cores toda a natureza
É força, vida, luz. O amor é Deus

Arnaud Amorim


PAVOR DAS DOENÇAS

Basta uma dorzinha no peito, ou mesmo uma sensação desagradável no estômago, lá vem o medo danado das doenças, cujo catálogo de nomes é interminável, até barrar de forma estarrecedora no terrível CA. Na mulher este mal temível atinge o que ela tem de mais belo e que exprime toda sua feminilidade, suas mamas. No coitado do homem, mexe com seu ponto crucial, de tão desconfortáveis exames: a próstata. Também é órgão demais. Por que Deus não reduziu um pouco a quantidade deles? Fígado, pâncreas, pulmões, coração, tireóide, trompas, vesícula, útero, ...arre lá!. Acho que teria sido melhor Deus ter optado por órgãos multifuncionais. Ou poderia nos ter dado dois corações e dois cérebros, a exemplo do que fez com nossas narinas, rins, pulmões, ouvidos e olhos. O segundo cérebro poderia ser até na caixa torácica, pertinho do segundo coração. Talvez as emoções misturadas junto a razão, fossem melhor ponderadas e nossas decisões poderiam ser tomadas de maneira mais eficiente.

Já pensou na tranquilidade de poder sobreviver a um ataque cardíaco, trombose ou mesmo a um AVC?

Claro, que são apenas elucubrações minhas. Não quero questionar nada da perfeita criação de Deus, que é justo, sábio e perfeito em tudo que criou.

No tempo de meus pais, era raro um caso de câncer. Hoje o sinal vermelho de alerta está aceso. Basta darmos uma olhada nos hospitais desta fatídica doença, ou visitarmos algum centro de oncologia para vermos que a quantidade de cancerosos aumentou.
Qual seria o motivo deste aumento de casos? Seria alimentação de produtos enlatados, com conservantes químicos? Os terríveis agrotóxicos de nossas frutas e verduras ? Ou os hormônios aplicados nos animais de corte, que fornecem as carnes que comemos?
Na fazenda onde fui criado, comíamos o feijão de corda do baixio, arroz plantado na vazante e descascado no pilão. Os animais comiam o pasto sadio das mangas. As galinhas, o milho natural de espigas apanhadas do roçado e antes de irem para a panela, passavam um tempo, presas no chiqueiro.
As frutas amadureciam no pé. Você já comeu uma banana maçâ amadurecida na bananeira?
Mamãe e duas irmãs, tiveram sessenta filhos, ali na mesma fazenda, morando, as três, num tripè, em torno do açude principal, naquele ambiente saudável. Todos criados neste mesmo paraíso. Ali havia saúde para dar e vender.

Algo está errado. E quem quiser ter uma vida de mais qualidade e mais longa, prime por uma alimentação mais natural. Francisco da AMAMOS e Gilbamar de Oliveira que o digam.

NOSSAS DIFERENÇAS

Nunca vi, em toda minha vida um casal tão diferente, como eu e minha esposa. Eu sou brabo como um siri dentro de uma lata. Ela é mansa como uma graúna de vinte anos de gaiola. Mansa? Tolice. Não existe mulher mansa. Prá mim, parir um filho, em parto normal, é a maior prova de brabeza, virilidade e coragem que uma mulher pode demonstrar. Coloquei até prerrogativas masculinas, de propósito, somente para exacerbar este ato tão heróico e grandioso.

Ela é apressada eu sou lento como uma lesma . Eu sou grosso como um animal coiceiro, ela é meiga como a pétala de uma flor. Ela é calada como uma parede, eu sou barulhento como um camelô de feira. Eu sou igual a um esmeril, como muito, ela belisca. Ela adora uma novela que eu detesto, eu já gosto de uma boa reportagem, um jornal, ou mesmo um bom debate, os quais ela nem olha. Ela é muito prendada, cozinha maravilhosamente e faz uma comidinha muito gostosa. Eu só sei comer. Sou perfeccionista, ela não. Ela é, digamos, um pouco mais gastadeira, eu sou mais seguro.
Gosto de um som alto, o qual ela não tolera.
Sou corajoso ela é medrosa. Não consigo encontrar nem meus utensílios, carteira, cartóes, caneta... só ela encontra tudo. Ela é mulher, eu sou homem. Eu sou chato ela é um doce.

Somos assim tão diferentes, por isso estamos casados há 41 anos e partilhamos de uma vida plena de respeito e clarividência, como ângulos complementares que, juntos, perfazem os trezentos e sessenta graus do circulo do amor.

Contudo, há valores que os temos de forma equânime. Ambos primamos pela verdade, fidelidade e honradez. Somos humildes para pedir perdão quando erramos e grandiosos para perdoar, quando conclamados a fazê-lo. E conclamamos logo, sem permitir que o sol se ponha sobre algum rancor.

Por isso somos árvores plantadas junto ao ribeiro das águas, cujas folham não murcham e somos bem sucedidos em tudo que fazemos.

Arnaud Amorim

sábado, 19 de janeiro de 2008

A MANCADA

Lembro com toda nitidez de minha mente, os idos de 1965 no Diocesano Santa Luzia. Ensinava português, o Pe. Alcir Leopoldo, que sabia a matéria de có e salteado. Ai de qualquer autor que tivesse colocado alguma matéria em desacordo com ele.

Pe. Alcir simplesmente jogava o livro fora, chamava-o de burro e dava a matéria por sua conta e risco. Risco zero, porque ele sabia demais.

Chegando em Fortaleza em 2002, resolvi fazer o segundo grau, pela quarta vez, trinta e seis anos depois. Sim, iniciei três vezes no Santa Luzia, e abandonava no meio do ano, para namorar. Até que em 1966, mais uma vez, deixei de estudar para casar.

Pois bem, conclui o segundo grau prá valer no CEJA aqui da Guilherme Rocha. Agora com 55 anos e mais responsável. Conclui tudo. Média 9,3.

A mancada vem agora. Resolvi fazer um concurso do Tribunal de Justiça. Comprei apostilas, Preparei-me com muito afinco e motivação. Estudei muito. Direito Constitucional, Penal, Português, tudo. Também pudera. Estudei dez horas por dia, durante três meses. Fui para a prova bastante animado e no propósito de, como se diz na gíria dos concurseiros, “fechar a prova”.

Fiquei muito chateado, porque não levei relógio no dia da prova e me perdi no tempo.

Mesmo assim respondi religiosamente tudo que tinha certeza. Deixei apenas cinco questões para o final. Eu sabia, mas preferi analisar mais demoradamente. Lembro que quando o fiscal comunicou que faltavam 30 minutos, a adrenalina me bombardeou de vez. Senti meu coração acelerar e perdi a capacidade de concentração.

Passei todas as questões para o gabarito e acabou o tempo. Ainda marquei mais três, conscientemente e ficaram duas em branco. Ouço ainda a voz do fiscal martelando: - O tempo acabou, pessoal!. Quem não entregar a prova agora mesmo, vou colocá-la em separado e faço constar na ata.

Para não deixar nada em branco, marquei, logo no gabarito, de qualquer jeito, aquelas duas fatídicas questões. Não tive mais tempo de lê-las no caderno de prova.

Errei ambas.

Fiquei com raiva de mim mesmo, porque as respostas eram exatamente as opções que considerara corretas quando da minha leitura inicial.

Pelos critérios de escolha, eu teria ficado em primeiro lugar, entre treze mil candidatos, por conta de minha idade. O concurso prescreveu em 2006 e não fui convocado.

Esta mancada sempre tilinta na campainha da minha memória.


Arnaud Amorim

PRIMÓRDIOS DA TELEVISÃO EM MOSSORÓ.

Sempre fui muito ligado a TV. Assistíamos eu e compadre José Pequeno, aos filmes da TV Verdes mares que passavam na tribo dos Monxorós em 1969. Ele também era amarrado, e não perdíamos nenhum deles. Ficávamos, às vezes, até altas horas.

Morávamos, na época, na antiga Fundhap, depois Cohab e posteriormente Walfredo Gurgel. Parece que ainda ouço aqui nos meus ouvidos, que a terra há de comer, a bonita voz do cara que dublava o artista principal.

Depois veio a copa de 1970. Com ou sem modéstia, a minha era, segundo sabia, a única TV naquelas paragens. Acho que fui um cara legal, porque improvisei uma sala de projeção, ops! de TV lá em casa, para acompanharmos a copa. Era tudo preto e branco, uma beleza!. Lembro do dia do memorável jogo, Brasil e Inglaterra. Era um domingo. O jogo seria à tarde. Soube que, logo pela manhã, às dez horas, a TV Verdes Mares, exibiria um filme sobre a vida de Pelé. A nossa repetidora da Serra Mossoró, Nonato que o diga, só entrava no ar, ao meio dia. Já pensou? Fiquei doido!. Tanto, que resolvi ir à serra, falar com o rapaz responsável lá, para tentar alguma coisa, tipo colocar no ar a repetidora, ou, em ultimo caso, assistiria lá mesmo o tal filme.
Adivinhem quem eu convidei, para ir comigo? Compadre José Pequeno. Acertou. Fomos de lambreta LD. Beleza total. Caímos apenas uma vez na viagem. Sobrei numa curva e tombamos sobre uma moita de mato.
Entretanto, fiquei mais animado que pinto em beira de cerca, quando galgamos a última ladeira da serra. Mais ainda, quando conseguimos “fazer a cabeça” do rapaz da repetidora e o memorável feito de, em plena copa do mundo, mandarmos ao ar o tão propalado filme, para o deleite de não sei quantos telespectadores em toda Mossoró.
Nunca falei isso para ninguém. nem para o técnico Nonato. Imagine o furo. Mas sempre há tempo para confessar e pedir perdão, mesmo 37 anos depois.
Pedir perdão uma droga! Que nada! Este singelo artigo deve é fazer parte da história da televisão em Mossoró. O amigo Cid do Canto de Página que o diga.
Pegamos a LD de volta, e corremos para casa. Foi bem rapidinho, parece que descendo, todos os santos ajudam. Imaginem nossa alegria ao chegarmos, à nossa pequena rua João Capistrano do Couto e já vermos várias pessoas lá em casa, sentadas, posicionadas para ver o filme. Geraldo, Heronilson, Zenildo, Pereira e tantos outros amigos do peito e do tempo.
Depois do filme, preparativos para o sensacional jogo. Vitória do Brasil. 1 x 0. Gol de Pelé. De cabeça. Foi emoção demais! Um amigo, Pereira, até passou mal.
Imagine a festa que fazíamos a cada jogo, a cada vitória, até a inesquecível final com a Itália, quando o prognóstico do nosso saudoso presidente Garrastazu Médici foi batata, 4 x 1. Brasil Tri-campeão mundial. Noventa milhões em ação, pra frente Brasil, do meu coração.

Outro dia, passava ali na loja do Titico Maia, proximidades da subida da ponte Jerônimo Rosado e vi uma cena inescapável. Flávio Cavalcanti, estalava os dedos pedindo: Nossos comerciais, por favor, numa TV colorida enorme! Quase bati o carro. Parei de qualquer jeito e corri p’rá lá. Achei, sinceramente, o máximo!
Mas esta é outra história.

CASAMENTO

Foi sempre assim desde o tempo de Adão
O casamento perdurou sendo importante
E trouxe um valor preponderante
Instituído por Deus como união

A sociedade quer mudar seu nexo
Modificando toda a estrutura
Dele tirando a pureza e a candura
Permitindo esponsais do mesmo sexo

Transformam a vida numa sodomia
Além disso ainda fazem apologia
Imitando os costumes amorreus

Sei que o assunto é bastante delicado
Gomorra cometeu o mesmo pecado
E foi punida pela própria mão de Deus

Arnaud Amorim

NOSSA MENTE

Prodigiosa e sagaz é a mente humana
Ela arquiteta sonhos e mil planos
Faz-nos poetizar céleres e ufanos
Muda a mulher pobre na mais soberana

Nela passeamos em nossos pensamentos
Voltamos o tempo num piscar de olhos
Tira a tristeza dos secos abrolhos
Pinta de quimeras todos os momentos

Estuda e domina toda a história
Permite relembrar nossa trajetória
Retribui saúde a quem está doente

Se um amor é difícil e inacessível
Torna este affair em algo mais plausível
Gozamos suas carícias mentalmente

Arnaud Amorim

JANGADEIRO VALENTE

Ainda escuro levanta-se sereno
Empurra o barco pela praia afora
Levando-o mar a dentro vai embora
Aproveitando que o tempo está ameno

Enfia o leme, segura e iça a vela
Navega na direção do oceano fundo
Em breve estará em lugar profundo
Debatendo no mar que se encapela

Ao ver o céu carregado de negrume
Enxergando só o relâmpago e seu lume
Mesmo assim, não teme, vai em frente

Ouvindo o ribombar da trovoada
Volta com muito peixe na jangada
Mostrando que é jangadeiro valente


Arnaud Amorim

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

MEU JEITO DE AMAR

O que hoje nos ensina a psicologia
É ter que repetir a todo momento
E expressar assim o sentimento
Oh amor, te amo, te amo, todo dia

Se não fizer assim acaba afeição
Acreditam muitos casais modernos
Mesmo assim ainda vivem seus infernos
Em feridas machucadas na traição

Amor p’ra mim é algo diferente
É carregar no peito a chama ingente
Do amor que queima da forma mais casta

É conviver juntos deliciosamente
Ao adoecer trazer-lhe um chá quente
Olhar nos olhos, sorrir, isto me basta

Arnaud Amorim

RESTO DE VIDA

Lembro quando ainda tinha dez anos
Meu pai dizia a coisa vai melhorar
Vamos ter fé que vamos prosperar
Coitado, padeceu ficaram seus enganos

Se dividir em quatro partes minha vida
Já passei por três quartos de meus anos
Reconheço que espero os desenganos
A esperança ainda pode ser mantida?

Só dinheiro e posição não satisfaz
Prefiro muito mais é ter a paz
Viver uma vida pacata e sossegada

Quem quiser pode viver sua aventura
Só quero mesmo é ficar nesta postura
E findar meus dias com minh’amada

Arnaud Amorim

PODER

Vejam como é frágil nosso sistema
Embora falem ser forte a instituição
Precisamos ter muito mais atenção
Estamos metidos num grande dilema

Enquanto viaja a Cuba o presidente
Para visitar um caduco e amigo seu
Enfermo e escondido em tenso breu
Deixa a presidência com outro doente

Mas esta é a condição da raça humana
Quer sustentar todo o poder que emana
Esquecendo os infortúnios seus

Prefiro interpretar de outra maneira
Tudo isto p’ra mim é baboseira
Poder mesmo só quem tem é Deus

Arnaud Amorim

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O BEM E O MAL

O Mal e o bem estão brigando
Luta acirrada
Todos os dias morre alguém
Do bem
E do mal.

A luta já inicia
Na microbiologia
Bactérias patógenas brigam
Com as zimógenas
Muitas vezes as patógenas vencem
E comemoram
Levando a vítima à decomposição.

No campo espiritual a guerra está lançada
Luta invisível
Batalha transcontinental

No tabuleiro humano também
A disputa está travada
Luta armada
Horrenda
Animalesca
O mal cresce a olhos vistos
Inapelável
A cada dia
A guerra está digladiando a paz
Todos os dias
Nos trazendo
Apreensão
É uma questão de vida ou morte
O medo é geral
Por que tanto mal?
O ódio está sufocando o amor
Ouço o grito silencioso
Da minha alma
Pára!!!

Até quando?

Eu sou do bem
Mas estou temendo
Ser suplantado
Pelo mal.

Arnaud Amorim

O TEMPO

Como passa rápido
O tempo
Parece que está correndo em disparada...
Domingo, segunda, terça-feira...
De repente chega o domingo novamente...

E assim tudo vai passando, nesta correria...
Implacável
Inexorável
Já chegamos a 2008

Será que já estamos no fim dos tempos?
Falam que todas as coisas serão apressadas
Abreviadas!

Com ele a sua própria ação
Devastadora
Tudo fica velho,
Estraga,
Enferruja, enruga,
Cria fungo.

Que droga!

Eu mesmo
Vejo minhas mãos
Envelhecidas
Olho para o meu rosto
Quase não me reconheço mais!

Até meus filmes super oito
Todos estragados,
Arranhados

Ah! Se eu pudesse dominar o tempo
Segurá-lo
Mas não tenho este poder!
O Deus eterno é quem o tem.

Se tivesse...

Eu voltaria os ponteiros do tempo
Daria varias voltas
No sentido anti-horário

Até chegar em 1979
E filmaria tudo outra vez

Ou...
Sei lá...
Trocaria os algarismos de minha idade
Colocaria o um antes do seis

Pronto!
Jovem outra vez
Com dezesseis.

Mas não posso
Sou fraco,
Pequeno,
Impotente.

Im

Tente

Não adianta tentar
Ele é teimoso
E no seu caminhar tic tac, tic tac
só vai para a frente

Oh tempo!

Arnaud Amorom

sábado, 12 de janeiro de 2008

POETA

Quer ver um poeta golpear o cinzel
E rasgar cortes fundos na escultura?
Deixe-o sozinho a olhar o céu
Numa noite de lua ou mesmo escura

Em que possa viajar pelas estrelas
Sua verve se intumesce e se agita
Ele viaja rápido e só quer vê-las
Poetiza e faz a peça mais bonita

Extrai o néctar da flor mais perfumada
E anela a sonhos cheios de fantasia
Sua veia de poeta se agiganta

Pega a lira e vai um acorde entoando
Não dá para saber se está cantando
Porque sorri e chora quando canta

Arnaud Amorim

QUERO

Viver os sonhos mais ousados
De um amor vivenciados
Firmado em fortes raízes
Pela chuva que molhou
Quero gozar todo encanto
Desfrutar lindas matizes
Amar quem sempre me amou
Ser grato a Deus por tanto
E vivermos assim felizes

Arnaud Amorim

FARRISTA LOUCO

Esquece a ética, a justiça e a lisura
Estigmatizado pelo dinheiro infame
Transgride todo e qualquer ditame
Enquanto mais bens tem, mais faz loucura

Passa a viver em suntuosas orgias
Cheio de mulheres e de cobiça
Assim o desejo que mais o atiça
É beber e pandegar em anarquias

Diz: o cabaret é meu melhor pedaço
Pintou na minha frente eu bebo e traço
Não sabe que o tempo da vida é pouco

Parece marcado da forma infamante
A vontade que tenho neste instante
É gritar sai dessa, farrista louco!

Arnaud Amorim

UTOPIA

Imagino todos vivendo em união
Pais olhando os filhos nos olhos
Alegres
Filhos abençoados
Amados
Mães verdadeiras
Videiras
Esposas dadivosas
Rosas.

A violência acabou!
E a guerra?
Encerra!
Agora só prevalece a paz

Trabalho para todos
Dignidade
Em todas as cidades

Saúde total
Não há febre de nenhuma cor
Nem amarela
Que legal!

Agora sim
Vale a pena viver!

Como isto bom seria!
Utopia.

Arnaud Amorim

DROGA

Começa com um carinha
Dizendo que é legal
Dê aqui uma tragadinha
Et cetera coisa e tal

Como o próprio nome diz
A droga é química forte
Começa tudo feliz
E sempre termina em morte

Mas há uma diferença
Traficante e viciado
Um é crime outro doença
Porém tudo é complicado

É escravo, o viciado
Do cracker e da maconha
Ele é um pobre coitado
Perde até sua vergonha

Em sua abstinência
Ele mata p’ra comprar
Muda o rumo da existência
E depois vai se drogar

Mata irmã, a mãe e o pai
A procura de dinheiro
Compra droga e assim vai
Usá-la o dia inteiro

A droga é a maior balela
Dos males o mais profundo
Não queiras nada com ela
Se queres viver no mundo


Arnaud Amorim

SAUDADE DE MINHA FILHA

Sai, saudade, da minha ilha
Vá p’ra outro oceano
Preciso ver minha filha
Não posso esperar um ano

O tempo passou ligeiro
Antes de você sair
Será mais um ano inteiro
Machucando por aqui

Que prazer você alimenta
Por que fere tanto assim?
Ameniza esta tormenta
Tem piedade de mim!

Quem inventou a saudade
É porque nunca bebeu
O cálice da soledade
Ou então jamais sofreu

Arnaud Amorim

ILUSÃO

Na ilusão passei um ano
E não entendia a essência
Vi depois que era engano
De uma falsa aparência

O meu sonho ficou cheio
De quimera e confusão
E senti que o devaneio
Burlava minha ilusão

Arnaud Amorim

CIÚME

O ciúme é sentimento
Suspeita de invasão
Traz bastante sofrimento
E machuca o coração

Mesmo que seja branco
Como a cor do algodão
Ou parecendo até franco
Mas tem sua emulação

É bastante doloroso
Traz Inveja ou despeito
Tira do casal o gozo
E o enche de defeito

Gente de qualquer idade
Pode então utilizá-lo
Ter sua rivalidade
É do ciúme que falo

O pior caso que tem
E isto é muito certo
É a mulher querer bem
Separar e morar perto

Só um pouquinho é bom
É prova até de zelo
Não pode é sair do tom
E já vem o desmantelo

Quem vai querer seu amor
nos braços de outro alguém?
Ser corno por onde for
E tratado com desdém?

O ciúme quando é cego
Faz o ser perder o norte
Cresce o ódio no seu ego
Pode terminar em morte

Para evitar o queixume
Nas cordas do coração
E abrandar o ciúme
Só a consideração

Arnaud Amorim

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

MEMÓRIA ROM

Lembranças que não podem ser apagadas
Só acessadas
Na minha memória estão fincadas
Registradas.

Passam como um vídeo tape
Na lembrança
Eu menino, na fazenda, brincando ou a pastorear.

Depois vindo montado no capricho
No meio dos caçuás
Vindo para a cidade grande, estudar.

Passam vários quadros por segundo
Do colégio, professores, dos colegas de carteira
Nós sentados ouvindo histórias marcadas,
Marcantes,
Ulisses o guerreiro, Helena de tróia , Dante

Incrível como nada muda,
O tiro de guerra, farda verde, um dois, um dois
A marchar...

São sonhos lindos de quimera
Quem me dera
Poder de novo tudo fazer
É só memória, só posso reviver

Minha musa aparece
Morena
Amena
Quem esquece?

Tive vontade logo de casar
Rapidamente
No dia seguinte, amanhã.

Que amores!
Frondosos
Fixados em fortes raízes
C'oas mais lindas matizes
Para o tempo suportar.

Como passa tão depressa!
Deus teria pressa?

Ah! que lembranças

Contudo, foram todas desfrutadas
Configuradas
Bem guardadas

Ah! Tempo bom

Tudo indelevelmente salvo
Na minha Memória ROM

Arnaud Amorim

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

EU BRIGADOR DE MIM

O que de fato me anima
Ao fazer a minha loa
É que quando acerto a rima
Dou uma gargalhada boa

Assim extravaso a alma
Na onda da emoção
E o verso então acalma
A corda do meu coração

E então sigo trilhando
Os caminhos encantados
Com os meus versos brilhando
Numa tela projetados

Minhas façanhas vou contar
Com bastante fé e esmero
Mas queira me perdoar
Se tiver algum exagero

No dia que amanheço
Com um presságio ruim
Visto a calça pelo avesso
E sou brigador de mim

Neste dia se me atiça
A vontade de brigar
Faço padre dizer missa
Santo descer do altar

Faço quem não tem dinheiro
Seu rumo logo mudar
Sair correndo ligeiro
Comprar fiado e me dar

Acredite se quiser
Eu não vou forçar ninguém
Pois se isso eu fizer
Vou lhe machucar também

Sem farinha faço pão
No deserto planto horta
Mato cobra com a mão
E mostro a cobra morta

Mergulho nos oceanos
E nos vales mais profundos
Transito todos os anos
Por todas as partes do mundo

Viajo pelas estrelas
Da minha linda fantasia
Pois quando vou lá vê-las
Renovo minha alegria

Seguro nos raios do sol
Tiro sal d'água do mar
Pesco peixe sem anzol
Na lua posso sentar

Nos sete mares navego
Sem navio e nem canoa
Se perguntarem não nego
Durmo dentro de uma lagoa

Com ninguém tenho intriga
Você então pode crer
Mas se entro numa briga
Boto todos pra correr

Um dia me escolheram
P’ra brigar numa mutreta
Mais de cinqüenta correram
Somente com minha careta

Minha rapidez foi tamanha
Lá para a serra do mel
Apanhei dez mil castanhas
Na aba do meu chapéu

Domo animais ferozes
Até o leão mais valente
Grito com as mais altas vozes
Com quem cruzar minha frente

Já na minha pescaria
Mato os peixes no porrete
E vou juntando na bacia
Sem uso de molinete

O meu sopro é tão forte
E não é mentira não
Que o ar vai ao pólo norte
Rodando como um pinhão

Dei um chute numa bola
E a bicha foi tão ligeiro
Que só o sopro da sola
Matou o pobre goleiro

E é porque não sou atleta
E também não sou ciclista
Não ando de bicicleta
E nem corro lá na pista

Escrevi um livro todo
Sem caneta e sem papel
E o enterrei no lodo
De uma nuvem lá no céu

Derrubo um boi valente
Sem corda e sem gibão
Só em passar em sua frente
Ele cai teso no chão

Assim sou bastante macho
Daquele que masca fumo
Não preciso de capacho
Para seguir o meu rumo

Gosto muito do meu jogo
E o faço todo dia
Pois ainda tiro fogo
Na casca da melancia

Vou encerrando assim
Esta trova exagerada
Despeçam então de mim
Muito obrigado: por nada

Arnaud Amorim

domingo, 6 de janeiro de 2008

Costume de antigamente

O costume antigamente
Do falar até o vestir
Era tudo diferente
Deixe-me contar aqui

Havia em tudo respeito
Até na roupa de mulher
Era comprida de um jeito
Que ia quase até o pé

Homem não usava brinco
Isso é coisa de mulher
Usa calça com vinco
De Antonio a Xavier

A mulher era feminina
Usava vestido e saia
Se errasse a sabatina
Levaria uma vaia

Para se alimentar
Era tudo natural
Não existia CA
Nem de mama ou vesical

Arnaud Amorim

Namoro de outrora

Veja como procedia
Há algum tempo atrás
Era o pai quem escolhia
A família e o rapaz

Se alguém fazia parelha
Bem junto ao seu coração
Já nascia uma centelha
Do fogo de uma paixão

P'ra namorar a donzela
Só com o consentimento
E p'ra dar um beijo nela
Só depois do casamento

Mesmo que ele insistisse
Pegar na mão não podia
Se com a moça bulisse

Ou casava ou morria

Eles sentavam na sala
E alguém sentava em frente
E não usavam a fala
Pra dizer coisa indecente

Casar de branco era lindo
Ali na frente do altar
Todos já estavam vindo
A benção de Deus suplicar

Mas de branco só casava
A noiva purificada
Que ainda não transava
Nem fora desvirginada

Arnaud Amorim

Família no meu tempo

A família era assim
No meu tempo de rapaz
Mas não pergunte a mim
Se ainda hoje isso se faz

Não era nenhum desatino
Fazer amor em profusão
E gerar muito menino
Não tinha televisão

Para a mulher parir
Cesariana não existia
Muita dor ia sentir
Mas o menino nascia

A mulher amamentava
Como aquela mãe que ama
E assim nunca pegava
Nenhum CA em sua mama

O filhos então cresciam
Todos eles na escola
Brincar na rua não podiam
Nem correr atrás de bola

Quando um pai dizia não
Todo mundo obedecia
Não tinha essa esculhambação
Que acontece hoje em dia

Existia compromisso
E amor a toda hora
Se a mãe dizia: Faz isso
A resposta era: sim senhora

Os pais criavam os filhos
Todos eles trabalhando
E assim seguiam nos trilhos
Nem roubando, nem matando

O tempo hoje está pior
Desculpe minha ousadia
Porque só temos melhor
Ciência e tecnologia

Arnaud Amorim

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Tudo se transforma

Um dos maiores problemas do planeta Terra é a produção de lixo. Ele não serve para nada, certo? Nada disso. Tudo aquilo que jogamos fora pode ser reaproveitado. Os restos de alimentos são adubos naturais: quando cascas, folhas e outros restos de alimentos são enterrados, eles se decompõem em matéria orgânica e alimentam as plantas.

O lixo sintético (isto é, aquele que não é natural) também não é simplesmente sucata. Ele pode ser separado e reaproveitado por um processo chamado reciclagem.

Papéis, plásticos, vidros e lata são materiais que podem ser reutilizados.

Por exemplo, podemos separar os copos de iogurte, as garrafas e as latinhas de refrigerante, os papéis das embalagens de doces e levar tudo isso para os grandes latões de lixo reciclável que existem espalhados pela cidade.

Se reciclar é legal, aproveitar é melhor ainda! Você sabia que o desperdício de alimentos do Brasil é um verdadeiro tesouro jogado fora? Não?

Leia em Comentários COMIDA JOGADA FORA

Arnaud Amorim

Comida jogada fora


O Brasil, país de 46 milhões de famintos, perde cerca de 35% de todas as frutas e verduras que produz. Estudos da Embrapa mostram que o custo do alimento não aproveitado é alto.

Os índices de desperdício de alimentos no Brasil, um país com 46 milhões de famintos, batem recordes mundiais. Estudo realizado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) no Centro de Agroindústria de Alimentos mostra que o brasileiro joga fora mais do que aquilo que come. Em hortaliças, por exemplo, o total anual de desperdício é de 37 quilos por habitante. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, nas dez maiores capitais do Brasil, o cidadão consome 35 quilos de alimentos ao ano — dois a menos do que o total que joga no lixo. ‘‘Num país com tantos famintos como é o Brasil, esse desperdício é inadmissível’’, avalia o químico industrial e responsável pela pesquisa, Antônio Gomes.

O trabalho de Gomes e outros estudos brasileiros evidenciam que a média de desperdício de alimentos no Brasil está entre 30% e 40%. Nos Estados Unidos, esse índice não chega a 10%. Não há estudos conclusivos que determinem o desperdício nas casas e nos restaurantes, mas estima-se que a perda no setor de refeições coletivas chegue a 15% e, nas nossas cozinhas, a 20%.

A perda de alimentos, na maioria das vezes, ocorre por despreparo das pessoas do ramo da agroindústria e dos consumidores. Na hora da colheita, a uva é arremessada lá do alto da parreira para o chão, sem amortecedor. No transporte, as bananas vêm amassadas pelas caixas de madeira empilhadas umas sobre as outras. Nos centros atacadistas, os abacaxis que vieram amontoados nos caminhões continuam amassados no balcões de venda.

Nos mercados, os consumidores (em especial as mulheres) amassam a cebola com as mãos, enfiam a unha no chuchu e quebram a ponta da vagem para checar se o produto tem qualidade. Se o alimento não agradar à exigente compradora, o destino da cebola, do chuchu ou da vagem é o lixo. Ninguém vai querer uma comida amassada ou quebrada.

Do total de desperdício no país, 10% ocorrem durante a colheita; 50% no manuseio e transporte dos alimentos; 30% nas centrais de abastecimento; e os últimos 10% ficam diluídos entre supermercados e consumidores.

Há cálculos que escancaram o prejuízo social do descuido com a comida. Em 2002, por exemplo, a safra de hortaliças foi de 15,743 milhões de toneladas, que valem em torno de US$ 2.564 milhões. Considerando a perda média de 35% desses alimentos, estima-se que mais de 5,5 milhões de toneladas deixaram de alimentar os brasileiros. Para a sociedade, um prejuízo de US$ 887 milhões.

Esse desperdício ajudaria a matar a fome de 53 milhões de pessoas no Brasil.

Texto original de o Correio Braziliense

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Mundo moderno

O que é certo prevalece como errado
Mudaram os costumes da população
Chegam ao fim a ética e a educação
Este mundo moderno está virado

Está bonito hoje aquele que é feio
Permanecerá preso quem está solto
Desenrolado agora é estar envolto
O que era nosso passou a ser alheio

Grande fama só tem quem é vilão
Honestidade quem ostenta é o ladrão
Alegria virou desgosto profundo

Tomou bomba, malhou, vira sarado
Muitos homens preferem ser veado
Deve estar bem próximo o fim do mundo

Arnaud Amorim

quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

PÔR DO SOL

Aponta o sol na direção do horizonte
Projetando seus raios do ocaso em tela
Rabiscando a mais linda aquarela
Com tons vermelhos brilhando sobre o monte

Quão herói cansado da longa travessia
Repousa devagar em seu aposento
Ouve-se ao longe trazido pelo vento
Um coro suave de uma ave Maria

Teria combinado com a lua candente
Posto que ela surge inteira no nascente
Aspergindo luz branca sobre a mata?

Quiçá a espere para um encontro de amor
Na ânsia louca de amenizar o seu calor
Num beijo ardente em sua face cor de prata

Arnaud Amorim

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Jeito de mudar

Embevecido pelo sonho da esperança
Produto da mais lúdica fantasia
Trago-lhe à tona, impávido, neste dia
Único jeito capaz de fazer mudança

Melhor vida e respeito ao meio ambiente
Alto Investimento na educação
Pão na mesa de todo o cidadão
Saúde pública a quem estiver doente

Ambos os sexos com a mesma igualdade
Segurança em toda e qualquer cidade
Redução da mortandade infantil

Reconheço ser isto uma desfeita
Entrementes é a única receita
Aceitável na mudança do Brasil

Arnaud Amorim