domingo, 20 de janeiro de 2008

NOSSAS DIFERENÇAS

Nunca vi, em toda minha vida um casal tão diferente, como eu e minha esposa. Eu sou brabo como um siri dentro de uma lata. Ela é mansa como uma graúna de vinte anos de gaiola. Mansa? Tolice. Não existe mulher mansa. Prá mim, parir um filho, em parto normal, é a maior prova de brabeza, virilidade e coragem que uma mulher pode demonstrar. Coloquei até prerrogativas masculinas, de propósito, somente para exacerbar este ato tão heróico e grandioso.

Ela é apressada eu sou lento como uma lesma . Eu sou grosso como um animal coiceiro, ela é meiga como a pétala de uma flor. Ela é calada como uma parede, eu sou barulhento como um camelô de feira. Eu sou igual a um esmeril, como muito, ela belisca. Ela adora uma novela que eu detesto, eu já gosto de uma boa reportagem, um jornal, ou mesmo um bom debate, os quais ela nem olha. Ela é muito prendada, cozinha maravilhosamente e faz uma comidinha muito gostosa. Eu só sei comer. Sou perfeccionista, ela não. Ela é, digamos, um pouco mais gastadeira, eu sou mais seguro.
Gosto de um som alto, o qual ela não tolera.
Sou corajoso ela é medrosa. Não consigo encontrar nem meus utensílios, carteira, cartóes, caneta... só ela encontra tudo. Ela é mulher, eu sou homem. Eu sou chato ela é um doce.

Somos assim tão diferentes, por isso estamos casados há 41 anos e partilhamos de uma vida plena de respeito e clarividência, como ângulos complementares que, juntos, perfazem os trezentos e sessenta graus do circulo do amor.

Contudo, há valores que os temos de forma equânime. Ambos primamos pela verdade, fidelidade e honradez. Somos humildes para pedir perdão quando erramos e grandiosos para perdoar, quando conclamados a fazê-lo. E conclamamos logo, sem permitir que o sol se ponha sobre algum rancor.

Por isso somos árvores plantadas junto ao ribeiro das águas, cujas folham não murcham e somos bem sucedidos em tudo que fazemos.

Arnaud Amorim

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