quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

EU BRIGADOR DE MIM

O que de fato me anima
Ao fazer a minha loa
É que quando acerto a rima
Dou uma gargalhada boa

Assim extravaso a alma
Na onda da emoção
E o verso então acalma
A corda do meu coração

E então sigo trilhando
Os caminhos encantados
Com os meus versos brilhando
Numa tela projetados

Minhas façanhas vou contar
Com bastante fé e esmero
Mas queira me perdoar
Se tiver algum exagero

No dia que amanheço
Com um presságio ruim
Visto a calça pelo avesso
E sou brigador de mim

Neste dia se me atiça
A vontade de brigar
Faço padre dizer missa
Santo descer do altar

Faço quem não tem dinheiro
Seu rumo logo mudar
Sair correndo ligeiro
Comprar fiado e me dar

Acredite se quiser
Eu não vou forçar ninguém
Pois se isso eu fizer
Vou lhe machucar também

Sem farinha faço pão
No deserto planto horta
Mato cobra com a mão
E mostro a cobra morta

Mergulho nos oceanos
E nos vales mais profundos
Transito todos os anos
Por todas as partes do mundo

Viajo pelas estrelas
Da minha linda fantasia
Pois quando vou lá vê-las
Renovo minha alegria

Seguro nos raios do sol
Tiro sal d'água do mar
Pesco peixe sem anzol
Na lua posso sentar

Nos sete mares navego
Sem navio e nem canoa
Se perguntarem não nego
Durmo dentro de uma lagoa

Com ninguém tenho intriga
Você então pode crer
Mas se entro numa briga
Boto todos pra correr

Um dia me escolheram
P’ra brigar numa mutreta
Mais de cinqüenta correram
Somente com minha careta

Minha rapidez foi tamanha
Lá para a serra do mel
Apanhei dez mil castanhas
Na aba do meu chapéu

Domo animais ferozes
Até o leão mais valente
Grito com as mais altas vozes
Com quem cruzar minha frente

Já na minha pescaria
Mato os peixes no porrete
E vou juntando na bacia
Sem uso de molinete

O meu sopro é tão forte
E não é mentira não
Que o ar vai ao pólo norte
Rodando como um pinhão

Dei um chute numa bola
E a bicha foi tão ligeiro
Que só o sopro da sola
Matou o pobre goleiro

E é porque não sou atleta
E também não sou ciclista
Não ando de bicicleta
E nem corro lá na pista

Escrevi um livro todo
Sem caneta e sem papel
E o enterrei no lodo
De uma nuvem lá no céu

Derrubo um boi valente
Sem corda e sem gibão
Só em passar em sua frente
Ele cai teso no chão

Assim sou bastante macho
Daquele que masca fumo
Não preciso de capacho
Para seguir o meu rumo

Gosto muito do meu jogo
E o faço todo dia
Pois ainda tiro fogo
Na casca da melancia

Vou encerrando assim
Esta trova exagerada
Despeçam então de mim
Muito obrigado: por nada

Arnaud Amorim

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