sábado, 1 de dezembro de 2007

COMO ELE, EU NUNCA VI

Nunca vi na minha vida um sujeito tão verdadeiro como ele. Em qualquer situação ele estava presente. Fosse no mato, na entrega ou em qualquer serviço que fizesse. Também fora sempre assim, durante os 17 anos que conviveu na fazendo do meu pai. Magrinho e esperto, Chico Desidério topava qualquer parada. Quando empreendia qualquer empreitada, não titubeava, ia sempre em frente até consumá-la. Uma vez saiu da fazenda, às pressas, para comprar um remédio na vila, distante 3 quilômetros, correndo a pé. Como não encontrou o medicamento, continuou a viagem até outra cidade distante 21 quilômetros. Retornou à fazenda altas horas da noite, muito suado e cansado, mas trouxe o remédio. Assim era Francisco Desidério.

Naquela manhã fomos ao centro comprar farinha. Os padeiros já estavam esperando. Por esquecimento, deixamos a Nota Fiscal lá no escritório. Ao pararmos a combi em frente à padaria, por moleza, aproxima-se o carro da fiscalização. Descem dois fiscais. Um deles pergunta:
- Cadê a Nota Fiscal desta mercadoria? Chico, mesmo sem parar o descarrego, respondeu que esquecera lá no escritório. Ao que o guarda anunciou:
-
Pois a farinha está presa!
Chico, todo sujo de farinha, continuava tirando os sacos da combi e resmungava:
- Essa farinha não foi roubada não, meu amigo. O guarda falou mais alto:
- Ei, velhinho, eu já falei que a farinha está presa!. Chico parou, encarou-o de frente e disse:
- Então pode ir buscar mais gente, porque vocês dois não prendem farinha aqui não.
Por coincidência, ia passando outra viatura do estado. O guarda mandou parar e pediu socorro. A camioneta branca parou. Dela saíram mais quatro fiscais. Os primeiros informaram-lhes que tentaram apreender a mercadoria sem nota, mas havia ali um velho valente que não acatava sua ordem. Os seis fiscais se aproximaram e o mais graduado tomou a frente e falou:
- E ai velhinho, a farinha está presa, ou Não? Chico parou, passou a mão no rosto e respondeu em cima da bucha:
- Eu falei que dois não prendiam a farinha, mas com um batalhão desses.!!!

Os guardas começaram a rir e foram embora, mesmo porque Chico Desidério já havia descarregado quase todos os sacos de farinha.

Em todos os anos seguintes, sempre que cruzávamos com a viatura daqueles fiscais eles faziam questão de parar e nos procurar para reviver este episódio. E sempre aproveitavam para dar gostosas gargalhadas.

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